A coleção ‘Dueto’, uma colaboração entre as designers MONICS + VIEIRA, representa a fusão de duas visões que se complementam. Esta parceria não só reinterpreta o uso do mármore, mas também desafia as convenções tradicionais, trazendo à tona a essência do material através de formas que evocam fluidez e conexão.
O projeto vai além de uma simples criação estética; ele simboliza a união de ideias e a exploração de novas possibilidades no design de mobiliário. A ‘Dueto’ é um testemunho de como o respeito pelo legado e a inovação podem caminhar lado a lado, criando peças que falam de tradição e futuro, num equilíbrio harmonioso.
Exposta na Marmomac, esta coleção sublinha a importância de se manter fiel à essência dos materiais, ao mesmo tempo que se ousa explorar novas fronteiras. É uma celebração da criatividade colaborativa, onde cada peça não apenas adorna, mas conta uma história de união, respeito e visão partilhada.
Como começou a vossa carreira no design? O que vos atraiu inicialmente para esta indústria e quais foram as primeiras influências?
TANIA: Comecei cedo como designer de interiores, e a minha maior influência foi sempre o meu avô, que despertou o meu interesse inicial nesta área. A minha jornada começou há cerca de 10 anos, enquanto ainda estudava. Rapidamente me fascinei por como o comportamento e o estado de espírito das pessoas podem mudar em diferentes ambientes interiores. Esta curiosidade levou-me a explorar como o mobiliário influencia os espaços interiores. Para aprofundar o meu conhecimento, estudei em Milão, onde me aprofundei no design de produtos, aprendendo como o mobiliário é feito, por que certas regras existem e quando é necessário quebrá-las. Foi lá que conheci a Rafaela. Depois de terminarmos os estudos, mudei-me para Amesterdão e trabalhei no estúdio Marcel Wanders durante alguns anos. Eventualmente, voltei a Milão, reencontrei a Rafaela e descobrimos que partilhávamos a mesma visão para a indústria do design de interiores. A nossa paixão mútua pelo design e desenvolvimento de produtos levou-nos naturalmente a começar esta jornada juntas, movidas por valores comuns e uma visão partilhada de como o design pode criar um mundo mais harmonioso.
RAFAELA: A minha jornada é um pouco semelhante. Comecei no design gráfico e comunicação, que estudei no Brasil, de onde sou natural. Tal como a Tania, comecei a trabalhar imediatamente, há mais de 10 anos. Decidi mudar-me para Milão para estudar design de produto e industrial, onde a Tania e eu nos conhecemos durante o nosso mestrado no Politécnico, a estudar Fabrico de Mobiliário. Ao longo da minha carreira, trabalhei em estúdios e empresas que se alinhavam com os meus valores, sempre explorando as conexões entre design, psicologia, natureza e tecnologia. A Tania e eu já éramos amigas, partilhando uma paixão pelo design e discutindo tendências e desafios da indústria. Com o tempo, fomos trocando experiências e ideias, e um dia decidimos unir forças e ver até onde esta parceria nos poderia levar.
TANIA: Já estávamos a fazer isto de certa forma, mas a certo ponto, decidimos tornar tudo oficial.
Com a vossa vasta experiência em diferentes projetos, quais são os mais memoráveis para vocês?
TANIA: Para mim, como designer de interiores, o projeto mais precioso é sempre aquele em que estou a trabalhar no momento. No entanto, um momento marcante na minha carreira foi desenhar o interior da residência privada do meu antigo chefe, Marcel Wanders. Foi uma sensação incrível quando, após ter trabalhado no estúdio dele e depois ter seguido o meu caminho, ele me contactou para trabalhar na casa dele. Ser confiada com um espaço tão pessoal foi uma honra e uma experiência única. Colaborar com ele para criar um conceito de santuário pessoal—um lugar onde se possa encontrar paz e reconectar consigo mesmo—foi profundamente inspirador. O objetivo era desenhar um espaço onde, ao entrar, se deixasse para trás todo o ruído e problemas, e se sentisse verdadeiramente em paz. Esse projeto tem um lugar especial no meu coração.
RAFAELA: Existem muitos projetos dos quais me orgulho profissionalmente, mas alguns tocam-nos a um nível mais profundo por causa da conexão que criamos com os clientes. Um projeto que se destaca envolveu viajar para a Índia para trabalhar com um grupo de mulheres que produzem tapetes têxteis em vários materiais na sua fábrica. Toda a operação é liderada por mulheres, e o seu modelo de produção circular apoia a comunidade local. Foi um projeto de comunicação gráfica para uma organização sem fins lucrativos, e a experiência foi mágica para mim. Ver como elas conseguiam contar a sua história de uma forma poderosa, sabendo que iria alcançar e impactar muitas pessoas, foi incrivelmente gratificante. O projeto também destacou os esforços de sustentabilidade num país com desafios profundamente enraizados. Isto aconteceu há alguns anos, mas continua a ser um dos meus favoritos.
O que cada uma de vocês traz para a parceria que a torna tão especial e produtiva? Como descreveriam a dinâmica de trabalho entre as duas?
TANIA: Um sentido de humor! (risos)
RAFAELA: Definitivamente, humor e muito apoio mútuo. Entendemos profundamente esta área, e estar numa fase semelhante das nossas carreiras ajuda. Quer seja design gráfico, mobiliário, arquitetura ou interiores, tudo está interligado, especialmente em Milão. Ter alguém que entende os nossos objetivos e partilha tanto os bons como os maus momentos é inestimável.
TANIA: Apoiamo-nos mutuamente e complementamos os pontos fortes uma da outra. Muitas vezes, trabalhamos nas mesmas tarefas, mas depende do projeto. Quando uma de nós precisa de ajuda, a outra está sempre lá, o que construiu muita confiança. A nossa dinâmica de trabalho surge naturalmente, provavelmente porque estudámos juntas. Estávamos habituadas a colaborar, e isso lançou as bases para uma parceria sólida. Nunca foi algo que discutimos formalmente—simplesmente aconteceu. Acreditamos que é assim que as mulheres devem operar nos negócios: confiar, apoiar e inspirar umas às outras para crescer continuamente.
RAFAELA: Temos capacidades semelhantes no design, embora as nossas visões possam diferir às vezes, o que acho ótimo. Permite-nos fundir as nossas ideias em algo completamente novo. Eu posso inclinar-me mais para o design industrial devido à minha formação, enquanto a Tania pode ser mais criativa ou artística. Às vezes, tenho que dizer: “Espera aí!” (risos) Mas funciona perfeitamente porque juntas descobrimos algo novo. Não se trata de mim ou dela—trata-se de nós, a criar algo fresco e único.
Quanto ao Dueto, falem-nos sobre a vossa inspiração para este projeto. Como descreveriam o conceito por trás da coleção?
TANIA: Somos sempre inspiradas pela ideia de unidade e pela conexão entre diferentes elementos, e isso é algo central nesta coleção.
RAFAELA: Este projeto surgiu naturalmente a partir do nosso processo colaborativo. O nome “Dueto” reflete a dualidade, que está muito ligada à nossa relação também—duas peças distintas que se juntam para criar algo novo. Não se pode trabalhar com uma empresa como a Galrão sem ser inspirado pelos materiais. Ficámos entusiasmadas por colaborar com uma empresa tão dedicada a usar os melhores materiais locais e a preservar o seu património. Isto inspirou-nos a criar algo mais orgânico, com curvas, que pudesse ser versátil, mas ainda assim carregasse a rica tradição da Galrão. Queríamos trazer a nossa perspetiva de design, experimentando e fazendo algo um pouco inesperado, mas mantendo-nos fiéis ao legado da empresa. No final, o nome, o conceito e tudo o resto encaixou perfeitamente na dinâmica da dualidade e na essência da Galrão.
TANIA: Durante o processo criativo, ficámos particularmente entusiasmadas com o facto de a Galrão ser uma empresa familiar. A sua jornada de 70 anos é um testemunho de união e de transformar objetivos em realidade. Esta energia foi algo que quisemos refletir no próprio produto.
RAFAELA: É como um puzzle onde cada peça se encaixa perfeitamente—o património, a família, a colaboração com designers, e o seu trabalho na criação de mobiliário.
Podem falar-nos mais sobre o processo de design e desenvolvimento das peças? Quais foram os maiores desafios ao trabalhar com mármore?
RAFAELA: Abordámos o design mantendo-o relativamente simples. O mármore pode ser complicado, mas com a expertise da Galrão na produção, sabíamos que estávamos em boas mãos—eles sabem lidar com isso. Queríamos criar algo que estivesse alinhado com as suas capacidades, por isso focámo-nos em superfícies planas e elementos que as suas máquinas pudessem trabalhar facilmente, em vez de exagerar e complicar demais as coisas (risos). A chave foi encontrar um equilíbrio que não comprometesse a nossa visão enquanto considerávamos as necessidades do produtor. É aí que está a beleza do design—integrar múltiplos aspetos numa peça coesa. Portanto, não houve grandes desafios, certo?
TANIA: A equipa da Galrão apoiou incrivelmente a nossa visão, o que nos ajudou a evitar quaisquer obstáculos significativos. Também queríamos mostrar que o mármore não se resume a formas rígidas e quadradas—ele tem uma suavidade natural. Focámo-nos em suavizar as arestas e incorporar curvas. Estávamos particularmente preocupadas com as curvas, mas o Paulo e a equipa fizeram um trabalho incrível, por isso quaisquer desafios foram superados com suavidade.
RAFAELA: Há também um elemento lúdico no design, com painéis deslizantes e detalhes escondidos. Não queríamos esconder a beleza do mármore—os veios são a primeira coisa que se nota. Para nós, era importante que a mesa e todos os pequenos detalhes fossem perfeitos, para que se visse a mesa, mas também se apreciasse plenamente a beleza natural do mármore.
TANIA: Sim, quando olhas para a mesa, notas imediatamente o material—a sofisticação deste património natural.
RAFAELA: E o artesanato! É incrível o que se consegue criar com este material.
Na vossa perspetiva, quais são as tendências futuras no design de mobiliário, especialmente no que diz respeito a materiais naturais como o mármore?
TANIA: Na minha perspetiva, hesito em usar a palavra “tendências” porque as tendências podem ser passageiras, especialmente quando se trabalha com materiais intemporais como o mármore. Acredito que a direção futura se focará em celebrar as qualidades naturais destes materiais, particularmente a sua pureza e força inerentes. Por exemplo, quando cortamos uma placa de mármore, ela muitas vezes mantém um pouco da sua textura crua e rugosa. Acho que veremos mais ênfase em mostrar essa “dureza” do material. Além disso, à medida que a tecnologia avança, ela desempenhará um papel crucial na forma como trabalhamos estes materiais. As curvas no nosso projeto atual, por exemplo, só são possíveis devido à maquinaria avançada disponível hoje em dia. À medida que a tecnologia continua a evoluir, influenciará ainda mais a forma como trabalhamos com os materiais. Em termos de tendências de cores, penso que continuaremos a ver um foco em tons terrosos, mas eventualmente, pode haver uma mudança para cores ousadas e vibrantes. Estas mudanças costumam alinhar-se com mudanças sociais mais amplas—historicamente, quando ocorrem eventos dramáticos, as pessoas tendem a gravitar em direção a cores mais vibrantes e dinâmicas. Acredito que estamos à beira de uma dessas mudanças, se é que já não começou.
RAFAELA: Concordo contigo, Tania, e gostaria de acrescentar algo na mesma linha. Participamos frequentemente em feiras de design, como os recentes 3 Days of Design em Copenhaga, e claro, o Salone em Milão, que é a nossa época favorita do ano—o nosso “Ano Novo” (risos). Uma mudança notável é que as pessoas, mesmo aquelas fora das indústrias de design e arquitetura, estão a tornar-se mais curiosas sobre a origem dos materiais. Embora não queira chamar isso de “tendência” também, como a Tania disse, preferimos focar-nos numa pesquisa mais intemporal, é fascinante ver este interesse crescente. As pessoas estão mais conectadas à sustentabilidade agora; querem saber de onde vêm os materiais e o seu ciclo de vida. Isso foi particularmente forte no Salone deste ano, que se focou fortemente na sustentabilidade. Normalmente, discutimos estes tópicos dentro da nossa indústria, por isso foi refrescante vê-los a ser abraçados de forma mais ampla. Espero que esta ênfase na sustentabilidade continue a crescer.
TANIA: Gostaria também de acrescentar, sobre o tema da sustentabilidade, que até os nossos clientes estão a tornar-se mais conscientes sobre as suas compras. Eles não querem apenas comprar um objeto; querem investir em algo duradouro. Na cultura de consumo rápido de hoje, as pessoas estão cada vez mais cuidadosas sobre o que compram e onde investem. Quando se trata de materiais como o mármore, é incrivelmente fiável. O mármore é sustentável porque dura—se investires numa mesa de mármore, ela pode durar por gerações. Podes polir ao longo dos anos, mas ela continua bonita e intemporal.
RAFAELA: Sim, o mármore é um material intemporal.
Por fim, que mensagem gostariam de deixar aos nossos leitores e clientes sobre a coleção ‘DUETO’ e a nossa parceria?
TANIA: A primeira mensagem é sobre respeitar o património—tanto o património dos materiais naturais como o património da empresa. É uma honra para nós trabalhar com uma empresa que valoriza os valores familiares. A própria coleção carrega uma mensagem de união, lembrando-nos que estamos todos conectados. É um apelo para sermos conscientes uns dos outros e dos materiais que usamos. Isso está ligado à sustentabilidade, à colaboração e à atenção nas nossas interações e escolhas.
RAFAELA: A colaboração é, de facto, a chave. A coleção chama-se “Dueto”, que significa parceria. Na vida, estamos sempre à procura de boas parcerias, quer seja nos negócios, nos relacionamentos ou em outras áreas. Esta coleção representa uma grande parceria com a Galrão e entre mim e a Tania. Se puder inspirar outros a juntarem-se e criarem conexões significativas, então conseguimos algo verdadeiramente especial. Trata-se de conexão e colaboração.